A Forma de Água: um mundo a verde-água onde falta fantasia e forma.

"A Forma de Água" venceu ontem 4 óscares - poucos comparativamente às 13 nomeações mas a meu ver demasiados. Este filme do realizador Guilhermo del Toro promete um romance fantástico entre uma empregada de limpeza muda e uma criatura sobrenatural mas o que nos oferece é um filme que tenta bater a várias portas e que se distraí do tema principal. A acção decorre nos anos 60 em contexto de Guerra Fria entre a Rússia e os EUA. Parecia contexto suficiente para o romance e para toda a história central mas não, o argumento teve de ir tocar em todos os temas politicamente correctos. Temos uma personagem homossexual mal desenvolvida, uma cena aleatória que vai tocar no racismo e ainda um episódio de assédio sexual que nada acrescenta à história. Parece um filme construído de propósito para ganhar os Óscares com direito a todos os clichés e mais alguns.
Apoio filmes que toquem em temas pertinentes como um Moonlight, um Get Out ou um Call Me By Your Name porque é esse o seu objetivo e é por isso que o fazem tão bem. Aqui não. Eu queria um romance intenso, profundo e desenvolvido e não uma história de amor apressada. Queria criatividade e fantasia como o Guilherme del Toro fez tão bem no Labirinto de Fauno mas que aqui não foi suficiente. Queria cenas mágicas na água que durassem mais que uns segundos e que não se resolvessem com uma toalha a tapar a porta e uma casa-de-banho, nada credível, inundada até ao teto - sim, com uma simples toalha a tapar a porta ao fundo. E se fossem só estes os problemas estávamos bem. Por exemplo, nunca chegamos a perceber o porquê de terem cortado as cordas vocais a Elisa, interpretada por Sally Hawkins, em bebé. Já para não falar na personalidade forçada e mal desenvolvida do opositor desta história - aquele que pretende matar o ser humanóide - e de umas quantas cenas aleatórias e desnecessárias a ele associadas.
No entanto, o filme tem pontos positivos. Começa por nos mostrar a vida rotineira de Elisa e do seu vizinho e amigo Giles. Eles têm esta amizade bonita e solitária o que é um excelente ponto de partida para o romance. Elisa sente-se incompreendida pela sociedade por ser muda e encontra essa compreensão no homem-peixe uma vez que ele também não consegue falar e não  a "vê como incompleta". Uma mensagem lindíssima e o discurso em linguagem gestual onde isto é mostrado é dos momentos mais bonitos do filme. Assim, como as cenas em que o romance se desenvolve e onde eles comunicam por língua gestual ou através da música. [mas mesmo assim queria mais].
Também a imagem e a banda sonora são pontos fortes do filme. O ambiente é rico em tons de verde-água que nos remetem constantemente para o elemento água e que trazem alguma magia ao filme. Estas tonalidades aparecem nas fardas de limpeza, nos autocarros, na casa das personagens e em diversos pontos - é tudo azul esverdado e isso é bonito.
Para terminar, resta-me apenas dizer que acho a entrega do prémio de melhor realizador aceitável - apesar de preferir o trabalho do Paul Thomas Anderson no filme Linha Fantasma - porque a realização é, provavelmente, a melhor parte do filme. No entanto, no que diz respeito à estatueta de melhor filme não posso mesmo concordar. Preferia ver o prémio atribuído ao Três Cartazes à Beira da Estrada, ao Call Me By Our Name e até ao Linha FantasmaE vocês, o que acham? Qual teria sido o vosso vencedor?

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3 Comentários

  1. O melhor artigo de opinião sobre este filme e que vai de encontro com a minha opinião :) Parabéns, mais disto!
    Beijinhooo
    Ritissima Blog

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  2. Concordo contigo, a história devia ter um romance mais longo e mais completo, não tão rápido!!
    Beijinhos,
    SHADES OF A GIRL

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  3. Não conhecia!
    Beijinhos

    https://simply-neca.blogspot.com/

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