crítica aos filmes dos óscares.
Depois de La La Land e de Hacksaw Rigde - cuja as críticas podem ler AQUI - já consegui riscar da lista de filmes para ver até aos Oscars mais quatro grandes nomes, todos eles candidatos a levar a estatueta de melhor filme do ano. Moonlight, Arrival, Hidden Figures e Manchester By the Sea são então os filmes da qual vos trago hoje a minha opinião.
Apesar de ter gostado mais de uns do que de outros acho que todos eles merecem que se tire duas horas da nossa vida para os ver porque todos eles têm algo que vale a pena. Começamos pelo primeiro que vi:
Moonlight
O Moonlight é a janela de entrada para a vida de Chiron, um menino, rapaz e homem negro - e homossexual - que cresce num bairro problemático de Miami. O filme chega-nos assim em três grandes capítulos cada um deles representado cada uma das diferentes fases da vida do ser humano, da infância à adolescência terminando na fase adulta.
Começamos com uma criança que sofre de bullying pelo simples facto de, à vista dos outros, já apresentar características que a distinguem sem ela própria se dar conta disso. A par disso tem de conviver com uma mãe viciada em drogas que tanto o ignora e despreza como tem súbitos momentos em que o abraça e diz que o ama. A única figura de apoio que tem aqui é um drug dealer que o encontra quando este estava escondido das outras crianças. No final deste primeiro capítulo, o próprio Chiron começa a ter consciência de si próprio o que serve de continuidade para a fase da adolescência. Esta é talvez a fase mais dura a nível emocional, a fase onde os problemas com a mãe se agravam, onde começa a descobrir na prática a sua sexualidade, onde continua a ser vítima de bullying constante e onde se localiza uma das cenas com mais carga dramática de todo o filme. Na fase adulta é onde Chiron se transforma visualmente em tudo aquilo que não esperávamos dele e onde somos confrontados com o peso do passado e com tudo aquilo que ele esconde por detrás daquela máscara social.
Moonlight é uma autêntica obra poética sobre a homossexualidade, sobre o auto-conhecimento e sobre a auto-aceitação. É uma história que nos chega em linhas calmas em que a carga dramática se mantêm ao mesmo nível ao longo do filme tendo um ou outro pico emocional que nada têm de exagero e de irreal. A beleza de Moonlight está nisto mesmo, nesta capacidade de retratar uma história que só por si já é dramática sem fazer uso desmedido do drama, ou seja, sem a forçar. É como se entrássemos na vida de Chiron e acompanhássemos no seu decorrer normal. As duas primeiras partes são brilhantes e a minha única crítica vai para a terceira, aquela que para mim foi o ponto onde o filme arrefeceu. Queria mais, faltou aquele algo que não sei explicar o que é mas que quando os créditos apareceram me fez logo pensar que faltava alguma coisa.
Um dos pontos mais altos do filme é a imagem que é de uma beleza inexplicável. Aquela cena da primeira imagem no mar é das mais bonitas que vi quer pela própria filmagem quer pela banda sonora que a acompanha. Não costumo reparar muito na banda sonora nos filmes mas neste tive a necessidade de ir procurar aquela música clássica que cada vez que aparecia no filme me fazia arrepiar - já agora é a The Middle of the World de Nicholas Britbell. O filme é também marcante por não colocar a raça negra em comparação com a raça branca, retrata a história de um homem negro sem nunca tocar no tema racismo e isso é algo que deve ser aplaudido de pé. Não existem personagens brancas no filme e ainda bem pois são totalmente dispensáveis. Concluindo, não me admirava nada que este filme leva-se mesmo o prémio de melhor filme do ano.
Hidden Figures
Hidden Figures remete-nos para os anos 60 em contexto de Guerra Fria quando os Estados Unidos e a União Soviética disputavam o primeiro lugar na corrida espacial. A par disso a sociedade norte-americana vive uma situação de enorme preconceito racial e por uma organização social que separa brancos de negros de forma extremista através de, por exemplo, casas de banho só para pessoas de cor ou lugares reservados para estes nos autocarros. O filme centra-se na NASA onde um grupo de mulheres negras é obrigada a trabalhar num edifício à parte com poucas ou nenhumas esperanças de conseguir algum dia ascender na carreira. Elas limitam-se a ser "computadores" e "calculadoras" fazendo e verificando os cálculos dos engenheiros. Aqui não estamos perante uma questão apenas de raça mas também de género visto que falamos de um mundo maioritariamente de homens brancos. Se já era difícil ser respeitada sendo uma mulher mais difícil seria ainda no caso de uma mulher negra. E é disto que nos fala o Hidden Figures ao centrar-se na história verídica de três mulheres de cor -Mary Jackson, Dorothy Vaughn e Katherine Johnson - que acabaram por ter um papel fundamental em várias operações espaciais realizadas pelos Estados Unidos. Temos a primeira mulher a tornar-se engenheira, a primeira mulher a ser supervisora de um grupo de mulheres negras especializadas em matemática e programação e a mulher responsável pelo cálculo da trajectória do lançamento do primeiro homem a orbitar a Terra bem como do voo de Apollo 11 à lua. A história, apesar de apresentar a luta destas três mulheres, dá mais tempo de antena e destaque a esta última, Katherine Johnson que é interpretada por Taraji P. Herson.
Hidden Figures é um filme que nos faz ter consciência do nível de descriminação que mulheres e pessoas de cor tinham de enfrentar no passado. É uma peça cinematográfica que prova, como diz o slogan do filme, que os génios não têm raça nem género. É uma história inspiradora que já devia ter sido contada há mais tempo mas que provavelmente foi lançada na altura certa dado o contexto político/social em que se encontram os Estados Unidos e o mundo em geral actualmente. Vale a pena ser visto por isto mesmo, por esta lição de vida que nos dá. Para que tenhamos em mente que existiram três mulheres que contra todas as probabilidades conseguiram ser bem sucedidas e realizar os seus sonhos quebrando barreiras e dando uma grande chapada a todos os homens e mulheres que as menosprezaram.
Não se pode dizer que seja uma excelente momento cinematográfico visto que o grande valor do filme fica preso na história mas tem alguns momentos muito bons e um bom ritmo tornando-se um filme agradável de ver. Talvez pedisse uma carga mais dramática e não tanto esta abordagem leve que percorre a totalidade do filme. Quanto à nomeação da Octavia Spencer - no papel de Dorothy - para melhor actriz secundária não tenho a certeza se foi merecida.
Arrival
O Arrival retrata a situação cliché em que o planeta Terra é invadido por objetivos voadores não identificados, ou seja, fala-nos do primeiro contacto entre extraterrestres e humanos. De forma a comunicar com eles e a perceber o seu objectivo na Terra bem, os Estados Unidos montam acampamentos militares e convocam vários cientistas e uma linguista - a Dr. Louise Banks interpretada por Amy Adams. O filme centra-se no desenvolvimento do trabalho da linguista, na forma como esta tenta comunicar com os extraterrestres e como consegue interpretá-los e desmistificar os símbolos que eles usam para se exprimir. Tudo isto envolto claro em inúmeras pressões políticas e sociais. Ao longo do filme vão ainda aparecendo cenas da vida pessoal da Dr. Louise Banks. Não vos posso dizer mais pois este é um daqueles filmes que apenas entendemos completamente nos minutos finais e que nos faz precisar de uns breves segundos a pensar para montar o puzzle todo. No geral, é um filme de ficção científica que nos mostra sobretudo a importância da comunicação e da linguagem mas que também nos levanta algumas questões sobre o tempo cronológico.
Antes de mais acho que é importante dizer que o filme não é mais um mero filme sobre extraterrestres a invadir a Terra. Os extraterrestres não chegam e começam a destruir a humanidade e também ninguém decidi começar a lutar com eles como na maior parte dos filmes do género. Foca-se mesmo na questão da comunicação e acho que isto é um tema realmente muito interessante e que ainda não tinha sido explorado. A maneira como a própria linguagem dos extraterrestres é criada no filme através de vários símbolos é muito complexa e de uma genialidade incrível.
Outra das coisas que é importante referir no filme é a caracterização dos extraterrestres que é das melhores que já vi. Apesar de não ser real, é credível. A par disso a fotografia do filme é maravilhosa, tem planos muito interessante e os planos gerais são realmente muito bonitos e bem conseguidos.
Claro que o factor suspense que se mantém ao longo do filme também é um ponto positivo desta obra. Não digo que seja um filme perfeito ou brilhante mas acho que tem muitas muitas coisas interessantes e que valem a pena ser vistas. Posto isto, acho que só me falta referir que a Amy Adams merecia uma nomeação para o Oscar de melhor actriz.
Manchester by The Sea
Manchester By The Sea leva-nos à vida de Lee Chandler - Casey Affleck - um homem agressivo, triste, solitário e com um passado nada fácil de superar. Quando o seu irmão morre este é obrigado a regressar à sua cidade natal uma vez que ficou responsável por tomar conta do seu sobrinho adolescente. Tarefa esta que não se revela propriamente fácil. Este regresso à sua cidade de origem é também um regresso ao passado. A um passado trágico, inesquecível e que tem a capacidade de arruinar a vida de alguém para sempre. O filme não nos chega de forma linear, as cenas do passado são nos dadas ao longo do filme através de recordações e memórias. Não vos posso adiantar muito mais sobre esta obra pois entraria rapidamente no campo dos spoilers uma vez que a história acaba por se revelar simples apesar de trágica.
Este não é um filme fácil, não é daqueles que se pode assistir de animo leve pois é um drama daqueles em que os momentos para esboçar um pequeno sorriso são quase insistentes. A grande maior parte do filme é marcadamente fria. Os olhares entre personagens, as reacções e as conversas são quase todas desprovidas de sentimento, geladas e quase indiferentes. Nota-se de imediato que Lee Chandler é um homem que já sofreu o suficiente e que devido a isso mantém esta posição distante. No entanto, acho que esta característica está presente em muitas das personagens até mesmo na reacção do seu sobrinho quando descobre que o pai morre. Até as paisagens e o clima de neve contribuem para que todo o filme tenha esta áurea negativa, como se não houve-se mais vida ali e como se nada de bom fosse acontecer. E não acontece. O filme termina quase no mesmo ponto que começou. Lee Chandler no final do filme mantém aquela relação pesada com o passado, mantém a mesma tristeza no olhar e o único ponto que pode ter adocicado levemente a sua vida é a relação com o sobrinho que ia melhorando a pequenos passos.
Resumindo, não é um filme para nos mostrar que a vida é fácil e um mar de rosas, muito pelo contrário. É um filme que nos mostra o quão dura pode ser a nossa existência, o quanto um erro pode destruir-nos e aos que nos rodeiam, o quanto em meros minutos perdemos tudo e passamos de viver para apenas existir e quanto difícil é por vezes seguir em frente.
Tudo isto contribuí para que o Manchester By The Sea seja uma filme duro mas ao mesmo tempo belo, daqueles para nos fazer pensar na vida. Só falta referir, quase sem dúvidas nenhumas, que o Casey Affleck vai levar a estatueta de melhor actor para casa.
Já viram algum destes filmes? Qual é que gostaram mais?
Tags:
Living
3 Comentários
O filme que me deixou mais curiosa foi o Moonlight, parece um filme riquíssimo! Adorei este post querida, tu escreves maravilhosamente sobre cinema!
ResponderEliminarTHE PINK ELEPHANT SHOE // INSTAGRAM //
Ainda não vi nenhum mas estou com vontade de ver os dois últimos. A ver se arranjo um tempinho para o fazer :)
ResponderEliminarBlog - Coco made me do this
Gostei muito muito da tua review muito coerente, boa escrita e a minha opinião é muito próxima da tua (dos que vi) Parabéns! Ainda estou a riscar a lista ;)
ResponderEliminarBeijinhoo
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