beleza sem crueldade.
Nos últimos anos a indústria da moda tem procurado
caminhos mais sustentáveis, em harmonia com a natureza e que vão de
encontro à defesa dos animais. Em 2016 o grupo Armani aboliu o uso de pele de
animais em todas as linhas da sua marca e em 2015 Stella McCartney recusou-se a ver a sua lã produzida numa quinta na
Patagónia onde foram provados maus tratados a animais e Hugo Boss anunciou que deixaria de usar peles e pêlos verdadeiros
nas suas colecções.
Por trás destas e de muitas outras acções
encontramos a PETA, People for the
Ethical Treatment of Animals, a organização não-governamental que tem um papel muito importante no combate à crueldade animal. Usando a
máxima “se não podes vencê-los, junta-te a eles”, a PETA tem comprado acções em
grandes marcas como Hermès, Prada e este ano comprou acções no
grupo LVMH – o grupo responsável for
fornecer peles exóticas à Hermès e à Louis Vuitton. O objetivo é infiltrar-se
dentro das empresas de forma a ganhar uma voz nas reuniões do grupo para
impedir o uso de peles de animais na produção de acessórios, malas e sapatos.
Também na área dos
cosméticos, da maquilhagem e dos produtos de cuidados pessoais a PETA tem
conduzido investigações e pesquisas de forma a diferenciar as marcas que efectuam
testes em animais e aquelas que são 100% cruelty-free.
Esta campanha chamada-se “Beauty
Without Bunnies” e, para os dados chegarem de forma rigorosa ao
público, a PETA disponibiliza no seu site
online um motor de
busca onde se pode pesquisar as várias marcas com o objetivo saber se realizam ou
não testem em animais. Disponibiliza ainda duas listas, a “Do Test” e a “Don’t Test”, actualizadas constantemente com dados que possam
surgir de novas investigações.
Na lista “Don’t Test” encontramos todas as marcas
de cosméticos, maquilhagem e de produtos de higiene pessoal - bem como produtos
para a casa - que não testam em animais em nenhuma fase da produção dos seus
produtos e que não efectuam vendas para China, país onde os testes em
animais são obrigatórios por lei. Para que as marcas entrem nesta lista da PETA
não podem efectuar testes em nenhum ponto da criação dos cosméticos, ou seja,
não podem testar os ingredientes base, as fórmulas nem o produto final. O que
acontece muitas vezes é que algumas marcas não testam o produto final mas fazem-no
na matéria-prima ou pagam a outras entidades para o fazerem. A PETA é rigorosa
nos seus critérios e faz investigações no sentido de esclarecer se uma
determinada marca é 100% cruelty free
ou não. É por isso que marcas que supostamente não efectuam testes em animais
não se encontram na sua lista positiva. Para as marcas fazerem parte desta
lista têm ainda de assinar um compromisso com a PETA de forma a serem
verificadas pontualmente para garantir que os estes princípios são mantidos no
futuro.
O facto de as marcas comercializarem para a China
também é decisivo nesta catalogação. Casos como o do grupo L’Oréal tornaram-se polémicos pois, segundo o site da marca, “a L'Oréal não
testa qualquer produto ou ingrediente em animais, em qualquer parte do mundo. A
L'Oréal tão pouco delega essa tarefa a outros. Uma exceção pode ser feita se as
autoridades regulatórias exigirem os testes para segurança ou para fins de
regulamentação”, ou seja, apesar de a marca afirmar que não efectua testes
em animais afirma também que podem existir excepções. Uma delas é o facto da
marca comercializar os seus produtos para a China. Assim, para a PETA a L’Oréal
faz parte da lista “Do Test”, a lista de marcas que incluiu mesmo aquelas que efectuam
testes em animais apenas em algum ponto da produção ou em algum país específico.
O mesmo aconteceu com a conhecida Victoria’s
Secret que deixou de ser um anjo para os animais no momento em tomou a
decisão de passar a vender os seus produtos na China e passou a fazer parte da chamada Lista Negra. Desta lista negativa fazem então
parte aquelas marcas que efectuam testes em alguma fase de desenvolvimento do
produto e que vendem para a China. A PETA afirma que algumas destas marcas
podem produzir determinadas linhas que não testem em animais mas como não
eliminaram na totalidade as experiências e testes mantêm-se na lista “Do Test”.
Entre as mais
conhecidas encontramos na lista positiva nomes como Bare Minerals, Bath &
Body Works, E.L.F Cosmetics, Bio-D, Formula X, Gosh Cosmetics,
a linha da H&M, Herbal Essentials, Inglot, Smashbox, The Body Shop, NYX, Lush Cosmetics, Too Faced, Urban Decay, Yes to Carrots,
entre outros nomes que podem consultar nesta lista – AQUI. Actualmente são ainda poucas as marcas totalmente amigas das animais
comercializadas em Portugal e na maior parte dos casos apenas temos acesso às
mesmas via online. Em oposição, a
quantidade de marcas que testam em animais dariam para encher dezenas de
corredores de supermercados, literalmente. Ao observarmos as prateleiras dos principais
hipermercados e ao comparar os nomes aí presentes com os nomes da Lista Negra
verificamos que todas as marcas que usamos no dia-a-dia e às quais temos maior
acesso efectuam experiências em animais. Marcas como Aquafresh, Axe, Clean & Clear, Dove, Garnier, Calgon, a já referida L’Oréal, Durex, Pantene, Listerine, Veet, Nivea, a Maybelline ou a Revlon
são marcas que testam em animais e que encontramos facilmente numa ida às
compras. No entanto, o cenário mantém-se mesmo nas marcas vendidas fora do
supermercado. Encontramos na lista negativa nomes como Lancôme, Avon, Kérastase, Balenciaga, Benefit, Calvin Klein, Clinique, Armani, Dior, M.A.C, Sephora Cosmetics,
Cacharel, Bobbi Brown, Estée Lauder,
Dolce & Gabbana e tantas outras
que podem ser consultadas nesta lista – AQUI. Existem ainda alguns nomes que não aparecem em nenhuma das linhas o que
significa que a PETA ainda não possui informações suficientes para catalogar a
marca, seja porque esta se recusa a prestar declarações seja porque a PETA ainda
esteja em fase de investigação.
O conhecimento desta
informação é importante na medida em que nos torna seres humanos mais
conscientes e conhecedores da indústria em que estamos inseridos, bem como nos alerta
para o facto de ainda existir um longo caminho a percorrer na área dos
cosméticos para que se atinja em plenitude uma indústria sustentável e amiga do
ambiente. É importante também que nos leve a tomar uma atitude para que, sempre
que tivermos possibilidade, optarmos por marcas com o selo cruelty-free.
Artigo escrito para a revista The Blue Magazine
Tags:
Vanity
1 Comentários
Nunca tinha lido um artigo que explicasse tão bem esta questão :) Obrigada!
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